segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CONTRA PERFIS FANTASMAS NA WEB/ISSO É ATO ILÍCITO


Nem Freud explicaria mais. A Contra-Cultura e o Kitch continuam vendendo receitas mágicas de pseudo-literatura e orgamos virtuais. São pizzas poéticas prontas. O preço é a razoabilidade de acreditar na camuflagem, nas distorções, colagens, plágios e invasão do outro e uso indevido de identidade alheia. ISSO É ATO ILÍCITO! A marginalidade é bárbarie, e a cultura do espetáculo das Mídias impera em regime de supeficialidades. Perfis fantasmas infestam a tela e a vida real de quem neles e com eles se envolve com a magia de suas receitas prontas. Fast food com delírios de eternidades. Descartabilidade da palavra, descartabilidade do ser humano. Irresponsabilidade. Cade Freud? Se Freud não explica mais,com certeza cabe a Justiça social explicar e agir, intervir neste aviltamento de comportamentos anti-sociais e marginais contra a dignidade da pessoa humana. CONTRA PERFIS FANTASMAS NA WEB! ISSO É ATO ILÍCITO!!!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

PAULO LEMINSKI




João Angelo Salvadori



Precisamos situar e entender a importância da obra de Paulo Leminski a partir de dois eixos fundamentais, que marcam a sua formação literária: o concretismo e a contracultura dos anos 60/70. Na obra de Leminski estas duas informações estéticas se fundem e adquirem uma nova dimensão, que fazem com que ele seja fundador de um novo e único momento na poesia brasileira da segunda metade do século.

Do concretismo veio, entre outras coisas, a informação de origem acadêmica, a visão em perspectiva da história da literatura universal, o radicalismo na valorização da palavra enquanto signo e matéria-prima básica do poema (a informação concretista talvez valha mais pelo seu conteúdo teórico/ crítico do que por sua produção literária propriamente dita, penso eu). Da contracultura veio o resgate da comunicabilidade (que fez tanta falta -- e até hoje faz -- a uma legião de poetas posteriores à primeira geração modernista), o humor, a desmistificação da "estética do profundo", o espírito meio anarquista e a veia transgressora. Dos dois, a valorização da concisão e o combate ao derramamento. Por esses dois caminhos Paulo chega ao haicai. A visada, no entanto, será sempre a do criador. O haicai é matéria para criação, e Leminski realmente alarga as possibilidades do gênero, sem o menor compromisso em manter-se dentro dos limites estritos da estética clássica japonesa, apesar de reverenciá-la e a ela reportar-se.
A legião de seguidores não é culpa sua, e enquadra-se perfeitamente no esquema de Inventores/ Mestres/ Diluidores proposta por Pound. Não é fácil ser genial, apesar da genialidade freqüentemente vir em embalagem muito simples.

Assim, o haicai para Leminski é informação, ponto de partida e muitas vezes de chegada (roupas no varal/ deus seja louvado/ entre as roupas lavadas), tudo a serviço do impulso criativo do poeta. A transgressão que ele pratica não é nenhuma heresia, é alargamento das possibilidades estéticas. Um sólido punhado de regras não vale uma só iluminação que um leitor de Leminski teve com um dos seus haicais ou trans-haicais. Parece-me justo criar obedecendo regras, mas não muito justo opor regras à criação.

Paulo Leminski, penso eu, foi um dos maiores criadores e divulgadores do haicai em língua portuguesa, e não um desviador de rota do gênero.



http://www.kakinet.com/caqui/leminski.htm

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CLARICE LISPECTOR/FRAGMENTOS




"O bonito me encanta mas, o sincero, ah, esse me fascina" Fragmentos de Clarice Lispector



Nasceu em Tchetchenillk - Ucrânia, no ano de 1925. Os Lispector emigraram da Rússia para o Brasil no ano seguinte, tendo parado na Ucrânia somente para ter a filha Clarice, que nunca mais voltaria à pequena aldeia em que nascera. Fixaram-se em Recife, onde a escritora passou a infância.

Órfã de mãe aos 12 anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Começou a escrever contos logo que foi alfabetizada. Entre muitas leituras, ingressou no curso de direito, formou-se e começou a colaborar em jornais cariocas. Casou-se com um colega de faculdade em 1943.

No ano seguinte publicava sua primeira obra: Perto do coração selvagem, iniciado cerca de dois anos antes. A moça de 19 anos assistiu à perplexidade nos leitores e na crítica e a repercussão de um estilo "muito diferente" para a época. Seguindo o marido, diplomata de carreira, viveu fora do Brasil por quinze anos, onde se dedicava exclusivamente a escrever.

Separada do marido e de volta ao Brasil, passou a morar no Rio de Janeiro. Em novembro de 1977 soube que sofria de câncer generalizado. No mês seguinte, na véspera de seu aniversário, morria em plena atividade literária e gozando do prestígio de ser uma das mais importantes vozes da literatura brasileira.





A descoberta do amor
“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”

Temperamento impulsivo
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

Lúcida em excesso
“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”.

Ideal de vida
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.”

Escritora, sim; intelectual, não

“Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.
[...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?
O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”

A síntese perfeita
“Sou tão misteriosa que não me entendo.”

A certeza do divino
“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”

Viver e escrever
“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.”
“Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.
O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.”
“Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”.

A importância da maternidade

“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”

Viver plenamente
“Eu disse a uma amiga:
— A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim.”

Um vislumbre do fim

“Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.

http://www.mocadosonho.com/2009/12/fragmentos-de-clarice-lispector.html

MIA COUTO/FRAGMENTOS


FRAGMENTOS DE MIA COUTO

Tinha tanto medo de solidão
que nem espantava as moscas

Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue.
Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.
Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.
Como o sangue: sem voz nem nascente.

A nossa língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rasto.

Cada um descobre o seu anjo
tendo um caso com o demônio.

Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Destino
à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos
vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?

Horário do Fim
morre-se nada
quando chega a vez
é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos
morre-se tudo
quando não é o justo momento
e não é nunca
esse momento

Ser, parecer…
Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida
Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.

Biofagia
É vitalício: comer a Vida
deitando-a entontecida
sobre o linho do idioma.
Nesse leito transverso
dispo-a com um só verso.
Até chegar ao fim da voz.
Até ser um corpo sem foz.

O Poeta
O poeta não gosta de palavras:
escreve para se ver livre delas.
A palavra
torna o poeta
pequeno e sem invenção.
Quando,
sobre o abismo da morte,
o poeta escreve terra,
na palavra ele se apaga
e suja a página de areia.
Quando escreve sangue
o poeta sangra
e a única veia que lhe dói
é aquela que ele não sente.
Com raiva,
o poeta inicia a escrita
como um rio desflorando o chão.
Cada palavra é um vidro em que se corta.
O poeta não quer escrever.
Apenas ser escrito.
Escrever, talvez,
apenas enquanto dorme.

O beijo e a lágrima
Quero um beijo, pediu ela.
Um sismo
abalou o peito dele.
E devotou o calor
de lava dos seus lábios,
entontecida água na cascata.
Entusiamado,
ele se preparou para, de novo,
duplicar o corpo e regressar à vertigem do beijo.
Mas ela o fez parar.
Só queria um beijo.
Um único beijo para chorar.
Há anos que não pranteava.
E a sua alma se convertia
em areia do deserto.
Encantada,
ela no dedo recolheu a lágrima.
E se repetiu o gesto
com que Deus criou o Oceano.

Nocturnamente
Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo
Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio
Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces


Natural da Beira, Moçambique, o galardoado escritor Mia Couto é considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos de língua portuguesa. A escrita tem sido uma paixão constante, desde a poesia, na qual se estreou em 1983, com A Raiz de Orvalho, até à escrita jornalística e à prosa de ficção. Vencedor de vários prêmios, tem a sua obra traduzida em alemão, castelhano, francês, inglês, italiano, neerlandês, norueguês e sueco.



http://www.mocadosonho.com/2009/09/fragmentos-de-mia-couto.html

No Jogo da Web/contra os perfis fantasmas


No jogo da Web nunca se sabe a verdade dos perfis fantasmas. E a boa fé da platéia é elidida através de uma cultura de superfícies. A bárbarie do perfil fantasmagórico cria camuflagens poéticas de toda a natureza. Indícios seguros da hipocrisia e do império da inconsciência e da irresponsabilidade, da imaturidade e da patologia. Escrever exige responsabilidade e consciência, despertar da natureza do próprio caráter. Sonhos jamais crescem na amoralidade. O que não lhe pertence e voce se apropria do outro jamais será seu, nem o torpor da mendicância vivida no mais alto grau da mentira, seja em amor, em criações, a natureza é irrevogável em suas leis e o que se planta se colhe. Vestir a pele alheia e fazer cortesia com chapéu e fotografia do outro é digno de pena e é ato ilícito. Se a consciência não desperta para a própria natureza de que tudo que faz ao outro está fazendo para si, a natureza a passos sábios o fará cedo ou tarde mas, cabe a Justiça social através das leis coibir os demandos de abusos de comportamentos. Escrever é extensão da consciência do que se é.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

AUTOPSICOGRAFIA



AUTOPSICOGRAFIA

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor
finge tão complementamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.


E os que o lêem o que escreve,
na dor lida sentem bem,
não as duas que ele teve,
mas só a que eles não tem.

E, assim nas calhas de roda
gira a entreter a razão,
esse comboio de corda
que se chama o coração.



PESSOA, Fernando. O Eu Profundo e os Outros Eus. Editora Nova Fronteira: RJ, 1980,pág. 104

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

“ROMANCE É CÂNCER DA LITERATURA”


“ROMANCE É CÂNCER DA LITERATURA”
Publicado no Jornal do Commercio, Recife, em 26.01.2011
Fernando Monteiro rema contra a maré, troca a ficção pela poesia e ataca as editoras brasileiras que tentam impor fórmulas de sucesso

Schneider Carpeggiani

O escritor Fernando Monteiro ostenta um novo alvo, desta vez a “sagrada instituição” do romance. Em entrevistas e palestras recentes, tem continuamente se referido ao gênero como o “câncer da literatura” e afirmado que, daqui para frente, pretende se dedicar à poesia. E estamos falando de um autor responsável por romances elogiados, como Aspades ETs etc., lançado primeiro em Portugal, em 1997.Neste momento, com a emergência do editor como protagonista principal – no cenário da literatura afinal dominada pelas leis de mercado – o romancista de hoje está seguindo fórmulas, esgotadas ou não, que pouco importam para as calculadoras & caixas de editores & livreiros do crepúsculo literário”, polemiza.
Segundo Monteiro, a crise mercadológica/conceitual do romance já é crônica no Brasil, com os autores recebendo verdadeiras fórmulas de bolo dos seus editoras. “Dona Luciana Villas Boas – que editou romances meus, na Record – abre sua caixinha de receitas para prescrever o ‘romance’ como o gênero a ser praticado pelos jovens escritores (nada de conto e, muito menos, poesia – ‘maldita’ por natureza, para o Deus Mercado) e surgem romancistas por todo os lados, com e sem aspas. Nesse cenário, anunciei uma atitude de nadador contra a maré, ou seja, em 2009 resolvi abandonar o romance, para retornar à poesia, como protesto contra as receitas de ficção e também em solidariedade à arte do verso.”
Apesar de ser lembrado sobretudo por sua ficção da última década, Monteiro começou sua carreira nos anos 1970 como poeta. Retornou ao gênero em 2009 com Vi uma foto de Anna Akhmátova, lançado pela Fundação de Cultura do Recife. Nesse longo poema, não se restringia a cantar o mundo – permanecia um escritor em busca de uma história. “Para mim essa é a forma de escrever ficção daqui para frente – remando contra a maré, repito. Esse é ao mal dos espíritos livres, no meio do rio poluído da cultura de massa.”“A poesia precisa tentar recuperar o que Dámaso Alonso chamava de seu ‘contenido novelesco’. Isso foi responsável pela atraente forma narrativa que vigorou em outros tempos, e desde A odisseia, A divina comédia, O paraíso perdido. Nos poemas longos da tradição ocidental corre um fio novelesco em que – como no Anna – ‘algo está acontecendo’, em oposição à construção abstrata, em parte responsável pela esterilização da palavra poética. No Anna, eu proponho que os poemas mais do que nunca narrem, contem, relatem e, no final, ‘transcendentalizem’. A palavra de toque – em tempos de vulgaridade – é essa: transcendentalizar, ir mais além e mais fundo, na longa viagem para fora da noite do Mercado...”, continua Monteiro.Apesar da sua crítica ao romance, faz questão de ressaltar que não existem formatos literários ideais que devem ser impostos aos escritores: “Não há formatos ideais nem gêneros ideias, pelo menos para virem, ‘de fora’, a fim de serem colados ao mundo interior de um escritor. Não há receitas, como as do bolo de Dona Luciana Villas Boas. Há oferecimento do próprio pescoço, literatura de risco e verdade seguida até o fim: fora disso, tudo é bijuteria. Fora disso, é melhor se preparar pra ler os romances da ex-miss Vera Fischer, que já avisou ter mais de dez romances prontinhos da silva, todos tratando de personagens em viagens internacionais e outros luxos, porque a moça também confessou que não sabe ‘escrever para pobre’ etc. Sugiro que o prêmio Jabuti – que é muito feio – seja rebatizado prêmio Fixe (ou prêmio Ficha, marcada ou não) em prévia homenagem à qualidade dos romances ainda inéditos da Verinha.”
Monteiro aponta que sua produção ficcional é herdeira direta de um momento chave da produção brasileira recente, formada por autores como Osman Lins, Caio Fernando Abreu e João Antonio. “O romance é, ou deveria ser, um salto no escuro pós-joyceano, ou seja, uma aventura rumo ao centro da terra literária, e não o rebaixamento para o que ‘vende mais’), com e sem olhos verdes buarquianos – literatura apenas mediana premiada como grande – e todo esse sub-Leblon que baixou sobre a ficção do país de um criador do porte de Guimarães Rosa...”, conclui.


Postado por Clóvis Campêlo in:

http://geleiageneral.blogspot.com/2011/01/romance-e-cancer-da-literatura.html

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Desconstrução e Pós-Modernidade






Queremos vindicar que a chamada desconstrução do pensamento ocidental na Pós-Modernidade, em todas áreas de conhecimento, seja para a retomada pelo homem de uma nova consciência das coisas e dos seres. A mortalidade do deus de Nietzsche está comprovada. Culturas erguem-se e caem mas,
a árvore da história comprova a reinvenção do homem e Zaratustra pode estar certo. O espírito das coisas recria-se. O universo é construtivo sob as teorias de hecatombes pois para além da compreensão as leis da natureza se cumprem no próprio homem. Discernir além das apologias de superfícies culturais de época é tarefa árdua a urdir-se na reconstrução de um novo pensamento, de uma nova consciência na teia de Ariadne, mas, o labirinto como diz Deleuze interpretando Nietzche pode ser o árduo caminho do retorno.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

RADUAN NASSAR E LAVOURA ARCAICA



Lavoura arcaica - parte I

1. Argumento

O livro está dividido em duas partes: A partida e O retorno. André, o protagonista, é um jovem do meio rural arcaico que resolve abandonar sua numerosa família do interior para ir morar em uma pequena cidade (ainda no interior), fugindo, em parte, daquele mundo asfixiante da lavoura, onde o passar do tempo parecia consumir as gerações, onde a rigidez moral mantinha as estruturas sociais análogas às da Idade Média, um mundo em que a loucura das paixões primitivas consumia sua alma, como, por exemplo o relacionamento amoroso e incestuoso (fantasioso ou carnal) com sua irmã Ana.

Com sua fuga, André põe a perder o precário equilíbrio da família – baseada em uma estrutura patriarcal clássica e impregnada por um forte caráter religioso e bíblico. O pai, então, determina que o filho mais velho, Pedro, vá em busca do filho pródigo na cidade. Pedro encontra o irmão em um quarto de pensão marcado pela sordidez e, após inúmeros apelos, consegue convencê-lo a retornar ao lar. Este retorno explicitará ainda mais os aspectos doentios e perturbadores do relacionamento entre os membros da família, com destaque para outros dois personagens: o caçula, Lula, que também pretende, a exemplo de André, abandonar a fazenda em busca de um mundo que promete possibilidades infinitas (o drama do êxodo rural), e a figura cigana, sensual e mediterrânea da irmã Ana, personagem que posteriormente será o pivô da ruína final do clã.

A volta de André ao lar traz uma aparente (porém precária) paz ao ambiente já inviabilizado. A palavra do pai, oriunda da tradição dos Dez Mandamentos, das parábolas bíblicas, dos profetas e dos grandes pregadores cristãos, torna-se ineficaz, configurando a simbólica “lavoura arcaica”, e o resultado não poderia ser outro senão a tragédia: o pai mata a filha Ana, ao perceber que ela ama André, e depois, de modo não explícito no livro, também acaba por perder a vida.

2. Análise

Dividiremos, por questão de didática, a presente análise em três segmentos: a linguagem, o contexto histórico e a família.A linguagem

Narrado em primeira pessoa, Lavoura arcaica está longe de ser uma narrativa linear, embora a ordem dos fatos possa ser apreendida sem maior esforço. A grande dificuldade do livro (simultaneamente fonte de sua riqueza) é a linguagem. De uma riqueza só superada na moderna prosa brasileira por Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa, Lavoura arcaica, no entanto, não pode ser considerado um romance de invenção ou de resgate léxico-sintático como é o do escritor mineiro. Muito antes pelo contrário. O estilo da prosa de Lavoura arcaica é dos mais elegantes e elevados, é patente o cuidado e a meticulosidade na escolha das palavras e na construção das frases. A inovação se dá no modo elíptico com que o narrador se expressa, nesse fluxo de consciência terrível e assustador, o stream of consciousness de James Joyce depurado ao limite, adquirindo assim extrema funcionalidade, permitindo que o narrador tenha um modo sui generis de revelar, por meio de meias-palavras, as grandes atrocidades que cometeu na sua Odisséia às avessas. Sentenças ex abrupto, sentidos incompletos, uma verborragia extremamente sonora que parece ter como único objetivo evidente lançar mais sombras do que luzes aos fatos. No entanto, tal obscurantismo não pode, de maneira alguma, ser considerado uma espécie de composição barroca pura e gratuita. As sombras, paradoxalmente, realçam as feridas familiares, que no escuro acabam por se tornar ainda mais ofuscantes (basta lembrar da sutilíssima cena de incesto entre André e o irmão caçula, ou da morte do pai ao final do relato). Em Lavoura arcaica o não dito parece ser mais importante do que a narração dos fatos, contrariando a perspectiva clássica da ficção ocidental a partir do século XIX e principalmente a tendência real-naturalista, muito em voga na ficção brasileira desde a retomada promovida pela chamada geração do Romance de 30. No entanto, as relações do livro com sua época e com a crise da ficção nacional nos anos 1970 são evidentes.

O contexto histórico

A bem da verdade, Lavoura arcaica, pela falta de referenciais históricos explícitos, poderia ter acontecido ontem. Eis uma das linhas seguidas por L. A. Fischer em um artigo intitulado Lavoura Arcaica foi ontem. Esta, porém, seria uma leitura que buscaria como base apenas os aspectos da natureza humana, seus conflitos e vicissitudes. No artigo citado acima, Fischer foge dessa análise e acaba por localizar historicamente o livro como o retrato do fim do mundo do imigrante rural. Semelhante processo ocorrerá até os meados dos anos 1970 de maneira geral e em escala nacional, produzindo parte da imensa população que hoje sitia de maneira já não velada e pacífica as metrópoles.

Em um artigo hoje considerado um clássico na área, J. H. Dacanal aborda de maneira brilhante o tema, retratando a crise da literatura brasileira como fruto da incapacidade de abarcar ficcionalmente a explosão demográfica e tecnológica das grandes cidades, além do esvaziamento e fim do mundo rural arcaico. Por isso, os romances da época seriam produto da “era do interregno militar, da desintegração das estruturas políticas e culturais pós-30, da guerrilha urbana e rural, da industrialização acelerada, das grandes migrações no sentido campo-cidade e do conseqüente e monstruoso inchamento das megalópoles da costa, da miséria e da violência física e moral, do ingresso da mulher no mercado de trabalho e da transformação das estruturas familiares do passado, da crise e das mudanças na Igreja Católica”.Seguindo a linha de raciocínio de Dacanal, que vê na telenovela o novo espelho das mudanças sociais do país, não é de espantar que os últimos nomes influentes da literatura brasileira tenham iniciado suas carreiras nessas décadas. Se Rubem Fonseca é o cantor da crise da cidade, Raduan Nassar será o dos imigrantes que se estabeleceram no campo e agora não têm outra solução além do deserto ou da aniquilação. Se com Guimarães Rosa o Brasil se despedia do mundo medieval e da Contra-Reforma, preservado no interior e nos grotões do sertão, vinte anos depois a narrativa de Raduan Nassar, ainda que de modo indireto, será o epitáfio das famílias de imigrantes, pequenos proprietários rurais expulsos do campo pela falta de oportunidades.Outro aspecto da crise do período está refletido na descrença dos escritores da geração nos amplos painéis históricos e sociais apresentados pelos escritores filiados ao Romance de 30, entre eles Graciliano Ramos, Jorge Amado, Erico Verissimo, etc. Tal descrença leva os autores do período, passando pelo intimismo e a introspeção de Clarice Lispector, a procurarem novas formas de narrar a realidade. Parece ser essa uma explicação bastante plausível para a ousadia da linguagem em Lavoura arcaica. O passar dos anos só acaba por acentuar em vez de mitigar o estranhamento de tal obra. Por essa razão, temos a impressão de que é útil ao leitor se aferrar ao contexto histórico para evitar que sua apreciação reduza-se meramente ao caráter estético. O que não seria uma postura surpreendente dado o altíssimo feito artístico alcançado por Nassar.


http://educaterra.terra.com.br/literatura/livrodomes/2005/06/02/002.htm

Julio Cortázar, Um mágico pensador




por:Beatriz Bajo


Julio Cortázar nasceu acidentalmente em Bruxelas, em 1914. Estudou o magistério, fez Letras e trabalhou como docente em diversas cidades do interior. Alguns de seus livros de contos são: Bestiário, Final de Jogo, Um tal Lucas, Gostamos tanto da Glenda, As armas secretas etc. Mas, sem dúvida, sua novela Amarelinha foi a que provocou maior comoção no panorama literário e cultural de seu tempo. Nesta obra, Cortázar, impõe-se ao problema de expressar, de forma enovelada, as grandes interrogações que os filósofos se questionam em termos metafísicos. Trata-se de representar o absurdo, o caos e a questão existencial mediante uma nova técnica. O autor pretende abolir as formas usuais da escritura novelística para criar uma anti-novela, sem trama, sem intriga, sem descrições e quase sem cronologia. Nesta obra, alcança de maneira estupenda o que se propôs ao longo de toda sua produção: envolver o leitor num jogo criativo. Cortázar concretizou, absolutamente, uma poética do fantástico não-tradicional. Por isso e, por sua incontestável trajetória, é considerado um dos melhores escritores contemporâneos. Em 1951, ganha una bolsa para estudar em Paris, em que se radica definitivamente e onde morre no ano de 1984. A literatura de Cortázar poderia resumir-se como o homem e outra forma de observar o mundo; desde o lúdico, desde o fantástico, desde o estranhamento "Apertar uma colherinha entre os dedos e sentir sua pulsação de metal [...]" diz-nos, e está nos convidando a romper com a rotina para olhar as coisas deste outro ângulo "E se de repente uma traça aparece em um lápis e pulsa como um fogo cinzento, olhe pra ela, eu a estou olhando...", propõe-nos, continuamente, a ingressar em uma ordem distinta, jogarmos com a vida para compreendê-la, abandonando uma atitude passiva e de entrega por outra diferente, a da participação e do compromisso con o que nos rodea: "Não creias que o telefone vai te dar os números que procuras. Por que te daria? Apenas venderá o que tens preparado e resolvido [...] Quebre a cabeça desse macaco corre desde o centro da parede e abre uma passagem".[BR]Apesar de tudo isso, as personagens de Cortázar não se assombram porque o que o autor tenta é produzir o assombro no leitor, confrontando a realidade do cotidiano com o incomum, explorando essa realidade, não a

partir das leis estabelecidas, mas desde as exceções a essas. Os Famas são a ordem, as instituições, a realidade; os Cronópios, o oposto. Em “Histórias de Cronópios e de Famas” condensa-se toda a literatura cortaziana. É o livro por onde deveríamos começar a lê-lo já que é, indubitavelmente, a porta de entrada a um mundo em que a solenidade e o tédio não têm cabimento, um mundo onde através da exploração profunda da realidade e da destruição das categorias tradicionais, Cortázar tenta resgatar nada mais nem nada menos que o humano.

http://pt.shvoong.com/humanities/796076-julio-cort%C3%A1zar-um-m%C3%A1gico-pensador/

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

GARCIA MARQUES E CEM ANOS DE SOLIDÃO



por:Raphaela Del Pino


Cien Años de Soledad, título original, foi escrito durante a década de 60 e publicado pela primeira vez em 1967, sendo considerado um marco na literatura latino-americana.
O livro conta a história da família Buendía, desde a fundação de Macondo, se estendendo durante cem anos até a morte do seu ultimo descendente. O narrador ainda na primeira página diz: “O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.” Assim, o que começa sem ter nome acaba adquirindo-o ao longo dessa mágica história que mescla magia, paixão, ciúme, revolução, luta, sabedoria, solidão. Assim, podemos dizer que o autor rompe com o tradicional e não usa um só protagonista em sua história, mas vários. Pois, toda a família Buendía bem como alguns “amigos”, Pilar Ternera, representam o “pluriprotagonismo” apresentado na trama.
Segundo a definição de personagem de Roland Barthes podemos classificá-los também como: redondos. Deste modo, os mesmos são capazes de surpreender, mudam de acordo com as situações, são profundos, têm problemas, etc. Além disso, ainda é possível defini-los por “reais ficcionais”, pois são capazes de remeter a pessoas e acontecimentos da vida real , sem necessariamente representá-los fidedignamente. Como existem vários protagonistas a história não possui uma ação, única, principal. Sendo assim, temos ações principais de acordo com os personagens: Aureliano frente ao pelotão de fuzilamento expressa, muito bem, um fato ação ou situação deste frente o livro. O momento, único do personagem, não representa a ação principal da teia de fatos consecutivos e opostos da qual a trama e tecida.

Já em relação ao tempo, Cem anos de solidão possui quatro tipos diferentes: cronológico, histórico, tempo do discurso e psicológico. O primeiro é definido pelos 100 anos da existência da família Buendía em Macondo, o segundo começa com a construção da aldeia –quando os objetos careciam de nome- e estende-se por todas as descobertas e surgimentos até a chegada do telefone; o terceiro, o tempo do discurso escolhido pelo narrador, possui anacronia -alteração temporal- são utilizados o recuo a acontecimentos passados: analepse, e a antecipação de acontecimentos futuros: peolepse; agora, por ultimo temos o tempo psicológico, vivido ou sentido pelos personagens e que flui de acordo com o estado de espírito dos mesmos, muito utilizado pelo narrador, principalmente em relação a personagem Úrsula.
Finalmente, o livro possui um narrador o qual podemos classificar como heterodiegético com focalização onisciente. Isto significa que apesar de não participar diretamente da história, ele se encontra numa posição de transcendência, conhece toda a trama e é capaz de manipular o tempo, devassar os personagens – conhecer seus pensamentos, sentimentos, ações. Assim, o tempo psicológico está ligado ao tipo de narrador onisciente, capaz de conhecer todo o interior dos personagens. Logo, o livro possui elementos singulares em sua construção. Não somente por não haver um único protagonista, mas também por o narrador dar leveza e naturalidade ao texto.

http://pt.shvoong.com/books/1693890-an%C3%A1lise-cem-anos-solid%C3%A3o/

domingo, 23 de janeiro de 2011

O mistério de Ariadne segundo Nietzsche








( Gilles Deleuze e o Fio de Ariadne)


Neste artigo publicado em seu Crítica e Clínica, Deleuze quer analisar o papel dessa mulher situada entre dois homens: Teseu e Dioníso. A questão quem? Não reclama pessoas, mas forças e quereres. Ariadne, a mulher entre o homem superior, o herói Teseu e o além-do-homem, Dioníso; representa o consolo do eterno retorno.
No herói Teseu estão contidos os atributos do homem superior, o espírito de gravidade, pesadume, gosto de carregar fardos, desprezo pela terra, impotência para rir e brincar, empreendimento de vingança. Ele pretende levar a humanidade ao acabamento e à perfeição, por o homem no lugar de Deus, fazer do homem uma potência que afirma e que se afirma. Acredita que afirmar é carregar, assumir, suportar uma prova, encarregar-se de um fardo, confunde afirmação com o esforço de músculos tensos. O homem superior vence os enigmas e os monstros, mas ignora o enigma e o monstro que ele próprio é.
Ariadne segura o fio para Teseu no labirinto. O fio é o fio moral, disfarce do ideal ascético e religioso. Com ele o que se quer é negar a vida, esmagá-la sob um peso, reduzi-la a suas forças negativas. Se Teseu é o espírito da negação, Ariadne é a alma reativa ou a força do ressentimento. Enquanto Ariadne ama Teseu ela participa desse empreendimento de negação da vida. Uma vez abandonada por ele (segundo algumas tradições) ela se enforca com o fio. Representa o niilismo vencido por si mesmo. As forças reativas, ao serem elas mesmos negadas, tornam-se ativas, a vontade de negação rompe sua aliança com as forças de reação, abandona-as e até se volta contra elas. Ariadne se enforca, ela quer perecer. Abandonda por Teseu, Ariadne sente que Dioníso se aproxima. Ele é o Leve, o que não se reconhece no homem. Sabe fazer aquilo que o homem superior não sabe: rir, brincar, dançar, isto é, afirmar. Por isso ele está além-do-homem, além do herói, em outra coisa que não é o homem.

Ariadne se alivia com Dioníso, descarregada. A alma torna-se ativa, ao mesmo tempo que o Espírito revela a verdadeira natureza da afirmação. Transmutação de Ariadne diante da aproximação de Dioníso: sendo Ariadne a alma que agora corresponde ao Espírito que diz sim.
Por que Dioníso tem necessidade de Ariadne, ou de ser amado? É que Dioníso é o deus da afirmação; é necessária uma segunda afirmação para que a própria afirmação seja afirmada. Dioníso é a afirmação do Ser, mas Ariadne é a afirmação da afirmação, a segunda afirmação ou o devir-ativo. Para Ariadne, passar de Teseu a Dioníso é uma questão de saúde e de cura. Dioníso precisa de Ariadne. Dioníso é a afirmação pura; Ariadne é a alma, a afirmação redobrada, o sim que responde ao sim. É bem nesse sentido que o Eterno Retorno é o produto da união entre Dioníso e Ariadne. Ser do devir, o Eterno Retorno é o produto de uma dupla afirmação que faz retornar o que se afirma e só faz devir o que é ativo. Nem as forças reativas nem a vontade de negar retornarão porque são eliminadas pela transmutação, pelo Eterno Retorno que seleciona.
Ariadne esqueceu Teseu, que já não é nem sequer uma má recordação. Teseu jamais retornará. O labirinto já não é o caminho no qual nos perdemos, porém o caminho que retorna. O labirinto já não é o do conhecimento e da moral, e sim o da vida e do Ser como vivente.



http://pt.shvoong.com/humanities/philosophy/1784547-mist%C3%A9rio-ariadne-segundo-nietzsche/

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

PAUL CÈZANNE ARTÍFICE DA ARTE MODERNA


Paul Cézanne. Compotier, verre et pommes, 1880.



Paul Cèzanne,
(19/01/1839 -22 de outubro de 1906), figura basilar da reação pós-impressionista na pintura e um dos artífices da Arte Moderna. Deixou um legado pictórico de extraordinário vigor com suas obras matéricas, perquiridoras, de cunho ontológico, sustentando as bases de várias proposições pictóricas da arte na modernidade.

CONTRA PERFIS FALSOS NA WEB




Transcrevemos abaixo conforme link notícia contra os Perfis falsos na Web, em necessária luta para que se coiba o ataque aos direitos da pessoa humana e sua dignidade, o qual postulamos se estenda com urgencia à legislação brasileira.

Advogados defendem lei contra perfil falso na web


FONTE:http://br.noticias.yahoo.com/s/18012011/25/manchetes-advogados-defendem-lei-perfil-falso.html&printer=1




Uma polêmica lei na Califórnia que pune internautas por criar perfil falso na internet, e que entrou em vigor no dia 1º de janeiro, levantou novamente discussão entre advogados criminalistas brasileiros sobre a necessidade de castigar autores desse tipo de conduta.
Especial sobre a Campus Party


Para especialistas ouvidos pela Agência Estado, o Brasil deve seguir o exemplo do Estado norte-americano - mesmo que o teor da lei seja diferente do texto californiano - e atualizar o Código Penal para contemplar certas ações que hoje não estão previstas. São raros os processos relativos à identidade falsa na internet terminar em cadeia para o infrator atualmente no País.

Direito penal é o meio de controle social mais gravoso que o Estado possui. Só se pode penalizar alguém desde que aquela conduta previamente exista. Às vezes, há certas particularidades que o Código Penal não prevê", afirma o advogado David Rechulski, especialista em Direito Penal Empresarial. "Acho importante uma releitura no Código Penal e contemplar com as condutas de crimes praticados por meios eletrônicos".

Grande parte dos maus comportamentos na web podem ser enquadrados no atual Código Penal, que é de 1940. Quem faz perfil falso na internet para causar dano a outra pessoa ou obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, pode hoje responder pelo artigo 307. Mas dificilmente um caso desse vai resultar em cadeia para o infrator, limitando-se a ser punido na esfera civil - multa e indenização.

Vítima



É o caso da publicitária Priscila Sobral, de 34 anos, vítima de difamações por parte da namorada do ex-marido. Segundo Priscila, um perfil falso no site de relacionamentos Orkut foi criado para ofendê-la. Se passando pela publicitária, postou mensagens de que vazava informações sigilosas da empresa que a vítima trabalhava. Além disso, cadastrou Priscila em sites pornográficos e colocou o e-mail profissional dela para os homens visitantes da página entrarem em contato.

"Hoje só uso a internet para trabalho. Não estou em sites de relacionamento nem quero que meus filhos estejam. Peguei aversão", diz. Depois de dois anos de batalha judicial, a infratora foi condenada a um ano de serviços prestados à comunidade. Na esfera civil, ela ainda aguarda uma indenização.

Conforme Rechulski, para certos casos nem sempre a esfera civil é suficiente para reparar o dano, tendo em vista o caráter dinâmico da internet. "As máculas para a vida e reputação das vítimas que advenham de tais práticas muito dificilmente encontrarão compensação tão somente na reparação civil, merecendo um tratamento mais gravoso, próprio do Direito Penal".

O criminalista Maurício Silva Leite vai na mesma linha de Rechulski. Ele defende a criação de uma figura agravada para internet, por causa do poder de disseminação da rede mundial. "Essa injúria fica acessível a muito mais gente. Dependendo do tempo que isso fica no ar, aquela difamação pode ser tirada após uma semana, mas seu dano é irreversível, porque outras pessoas podem armazenar as ofensas no desktop e depois enviar por e-mail", explica.

Desequilíbrio


No entanto, em uma eventual revisão da legislação, Silva Leite fala em escolha criteriosa dos comportamentos que podem ser tipificados como crime. O receio dele é a "criação desenfreada de condutas penais", englobando inclusive "infrações de menor potencial ofensivo".

Ele teme que a punição para uma certa conduta na internet tipificada como crime seja igual ou até maior do que crimes de maior gravidade, causando distorções na legislação brasileira. "Meu receio é criar leis de crime na internet com pena de 1 a 3 anos, por exemplo. Então vemos que existe a mesma pena para lesão corporal no Código Penal, que é uma infração muito mais grave. Isso desequilibra o sistema", exemplifica.

De acordo com o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo e MBA em direito eletrônico Renato Opice Blum, muitas das ocorrências são apenas resultantes de brincadeiras de conhecidos das vítimas. Porém, uma lei específica, como tem agora a Califórnia - que prevê multa de até US$ 1 mil ou um ano de prisão -, pode sim inibir novos casos, que, segundo ele, têm crescido no País.

Denúncias formuladas em delegacias, à Polícia Federal (PF) por email específico (denuncia@dpf.gov.br), ao Comitê Gestor da Internet no Brasil e a sites de denúncias já somavam 1 milhão em 2008. "Uma lei específica ajudaria a enquadrar, no Brasil, essa conduta num crime único", afirma Opice Blum. Atualmente, dependendo do caso, o autor do perfil falso pode ser enquadrado em crimes como calúnia, difamação e falsidade ideológica.

Para Opice Blum, a lei californiana também é polêmica porque confronta com a Emenda número 1 da Constituição dos Estados Unidos, que garante liberdade de expressão. Mas ele diz acreditar que esse direito tem que ter certos limites. "Não há prejuízo à liberdade de expressão. A lei fica limitada à garantia da honra da pessoa", diz.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MOSTARDA


Somos medida e extensão da nossa consciência em expansão e nela caminhamos
com nossos pensamentos e atos. Construir ou destruir resulta em assumir as leis da natureza em nós com suas sanções. Tudo faz compensação. Da mostarda nasce mostarda.

ILÍCITO


Até onde vai a utilização de nomes alheios reconhecíveis, maquiados em sátiras, blagues, blefes, pseudo-literários
com a infestação de perfis fantasmas, que proliferam porque cadastrados com falsas identificações e endereços nos sites da mídia? Isso não é Democracia é prática ilícita. E a utilização clandestina de fotos de pessoas que naturalmente tem identidade civil, personalidade física, com registro civil utilizadas nesses blefes literários. A facilitação da mídia e a pseudo-literatura prolifera. Até quando essa violação dos direitos da pessoa humana e de sua dignidade? E tudo isso a alicerçar receitas pseudo-literárias e recrutamentos com interesse afetivo a dizer-se poesia.

O EXEMPLO DO CÃO NUNCA O ABANDONE


Proteja seu animal. Nunca o abandone, ele é indescartável.Nesta foto a imagem do cão ao lado do túmulo de sua dona,recém-falecida em decorrencia da tragédia de chuvas no Rio de Janeiro, Brasil.

De uol.notícias
Divulgado por

Delasnieve Miranda Daspet de Souza
Embaixadora Universal da Paz - Genebra - Suiça - Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix
Embaixadora para o Brasil de Poetas del Mundo
www.delasnievedaspet.com.br - www.pantanalms.tur.br - www.lunaeamigos.com.br
http://www.delasnievedaspet.com.br/embaixadora_universal_da_paz.htm
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=600
http://grupobrasilmostratuacara.blogspot.com/

domingo, 16 de janeiro de 2011

CASA FERNANDO PESSOA EM LISBOA



UNIVERSO PLURAL

Inaugurada em Novembro de 1993, a Casa Fernando Pessoa foi concebida pela Câmara Municipal de Lisboa como um centro cultural destinado a homenagear Fernando Pessoa e a sua memória na cidade onde viveu e no bairro onde passou os seus últimos quinze anos de vida, Campo de Ourique.

Possuindo um auditório, jardim, salas de exposição, objectos de arte, uma biblioteca exclusivamente dedicada à poesia, além de uma parte do espólio do poeta (objectos e mobiliário que pertenceram ao poeta e que são actualmente património municipal), a Casa Fernando Pessoa é um pequeno universo polivalente onde, nos seus três pisos principais, se realizam colóquios, sessões de leitura de poesia, encontros de escritores, espectáculos musicais e de teatro, conferências temáticas, workshops, exposições de artes plásticas, sessões de apresentação de livros, ateliers para crianças, numa programação o mais possível diversificada.


http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2258

sábado, 15 de janeiro de 2011

BOMBARDEIO VIRTUAL





Vivemos a era dos bombardeios virtuais, ideológicos, filosóficos, tecnológicos, publicitários, sensuais, eles são letais e desestabilizam comportamentos e estruturas psicológicas humanas e sociais. Eles são intercambiados e facilitados pelos meios de comunicação de massa hodiernamente. Traduzindo, vivemos em plena era do mass cult ou da cultura de massa, de uma indústria cultural de utópicas ideologias de mercado, do escravagismo tecnológico, da produção serial, onde emergem novos comportamentos humanos diante da vida, da arte, da literatura, esta última hoje acobertada por uma parafernália de folhetins cibernéticos nos sites literários, que se mesclam a relacionamentos. Em foco uma nova literatura de cordel midíatica alimentada pelo onirísmo utópico da solidão do individuo moderno acoplado ao olho mágico da Web Cam, dos celulares, dos emails, com a notória evidencia na falência dos valores afetivos. Pacotes express são ofertados nas passarelas literárias, à mercê de receitas prontas que se mesclam entre a pseudo-literatura e arremedos que envolvem até postulações pseudo-religiosas via áudio, camuflado sob objetivos literários do caçador(@)s de relacionamentos. Uma nova charge do espantalho do sujeito pós-moderno.com sua falida ética, paramentado de pseudo-colagens e apropriações indevidas de vestes alheias, descarados plágios, performances fantasmas, patchworks, numa belicosa competição por notoriedade fantasma demonstrando-se a fragilidade da personalidade perdida. Caricaturas desfilam bombeadas como balões de plástico pelo desespero da expressão de solidão e a derrocada de valores cada vez mais alimentados por interpretações niilistas do absurdo da vida, que emprega a nadificação do ente humano, sua personalidade e a vida do planeta. Para onde vamos? Ressalvando-se exceções, parece não existir mais platéia para poéticas genuínas que propugnam por uma dialética de criação e resguardo de valores.A enxurrada midiática teima e insiste na imediatividade, na escrita de uma cultura de superfície, de pacotes prontos, onde não há lugar mais lugar para reflexão porque o sujeito moderno e sua sapientude dispensa a vivencia dos bancos escolares e dedilha com facilidade o novo piano cibernético com as cômodas teclas de enter a lugar nenhum. Delete-se!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Poeta


pintura de Gibran Khalil Gibran
1911


(Excertos de “O Profeta)
GIBRAN KHALIL GIBRAN
Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.

Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.

Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.

Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao freqüentar as fadas e os feiticeiros.”

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.

Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.

Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...

Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.

E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorgeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.



(Extraído de “Temporais”)



http://www.culturabrasil.pro.br/gibran.htm#poeta

DESCARTÁVEL


Hoje a flor é descartável como um chinelo, como um pedido fast food, voce pode ser flor de asfalto sob a luz néon à beira do bueiro de meninos craquentos, frutos do mal social. A cinderela ou é ladra ou precisa de Freud e a boa intencionalidade não tem mais pátria. Melancias de asfalto tomam sol e dão congestão, mas, continuam na passararela entretanto ainda procura-se uma agulha de boa intenção no palheiro incendiado. Ontem uma passou na esquina, agora, amanhã, ou depois dirá eu te amo em pacotes vinte e quatro horas com ou sem preventivo. En passant...e os senhores feudais continuam de plantão na oferta e na procura.

Mira De Mira

http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/2720846

http://imprimaturevistadearteeliteratura.wordpress.com/descartavel/

domingo, 9 de janeiro de 2011

O FORJADOR




Tudo condensa
o que eu não apreendo
no instante fugidio que explode o tempo
a minha incapacidade de criar fórmulas
desmorono e tudo se reconstroi fora minha vontade
para reescrever minhas pulsões de extase
não há inferno telúrico maior que das minhas sombras
sou o criador do meus demonios
o forjador da (minha) divina tragédia
quando desalinho o alinhavado
e aprisiona esse verme que se faz raiz
de probalidades dos meus extases
tudo se recria independente dos meus infernos
e das fórmulas da minha janela morta para meu desespero
o vazio se recria além dessas equações
onde recolar tudo se tudo recomeça sempre
na própria inalação que expurgo?
demiurgo do meu ego
Apolo sem Zeus
dessassossegado nos meus limites
vivo das ferveduras da condenação do ilimitado
da minha incompreensão
das espessuras das teias que urdo
onde ficou aquela formosura que regurgito?

Édito De Mira

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mariposa



Resplandescente
ela ilumina as calles,
purpurina brilha na ponta da espátula
e grita pelo abandono.


ARMIA DE ARMIA